In.: Histórias Contadas no Alpendre, 2014
– Cumpade Batata, é verdade que você disse que tem vontade de entrar pro bando de Lampião?
– É! Você sabe onde ele tá?
– Sei. Tá no pé da serra, daqui a meia légua. Naquela casinha abandonada dos Soisa.
Ele agradeceu ao compadre, arreou a burrinha, montou e seguiu pra lá. De longe, foi avistado por um capanga de Lampião, que vigiava de cima de uma catingueira, montando logo a cavalo e riscando do lado dele, que o rabo era um rei, sem ele nem esperar:
– O que você faz por esses arredores? Desembucha logo o que vai querer, senão morre na ponta da peixeira.
– Lampião tá aí?
– Tali deitado.
– Eu quero falar com ele.
Ficou de orelha em pé, mas, sentindo que ele era de paz, resolveu levar o homem até Lampião.
– Me acompanhe.
Ao chegar, Lampião deu um chilique danado com a chegada do estranho, mas como já tava lá, foi logo mandando ele falar.
– Lampião, eu quero entrar pro seu bando!
Então, Lampião perguntou:
– Você tem coragem mesmo?
– Acho que tenho.
Lampião, desconfiando que ele pudesse querer lhe passar a perna, disse:
– Vou fazer um teste com você, mas se não passar, morre. Quer fazer?
– Quero.
Lampião tava deitado numa rede armada no caibro de sabiá. As pernas cruzadas, e os braços embaixo da cabeça.
– Pois olhe, é o seguinte: quando eu contar até três, você corta os punhos da rede. É pra cair só a rede no chão. Se eu cair, você pode me matar. O mesmo vai acontecer com você. Se você cair no chão, eu lhe mato. Quer topar?
– Topo!
Quando chegou a hora da onça beber água, assim foi feito: Lampião se ajeitou na rede e mandou que ele cortasse os punhos.
Quando ele passou a faca, que olhou, Lampião já tava em pé.
– Agora é sua vez.
Então ele se deitou, se ajeitou e gritou:
– Já!
Lampião passou a faca e…
– Cadê o homem?
Quando Lampião olhou, ele tava atrás dele com a rede debaixo do braço.