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In.:Histórias Contadas no Alpendre, 2014.
Era um homem muito preguiçoso. Sua mulher vivia enchendo o saco:
— Você num vai arranjar um emprego, um trabalho não, hein?
Ele dizia:
— Não! O que há de ser meu, às minhas mãos há de vir.
Um dia, sonhou com uma botija. No sonho viu que era muito grande. Pela manhã, ao contar pra mulher, ela perguntou:
— E você não vai arrancar não?
— Vou não! O que há de ser meu, às minhas mãos há de vir.
Indignada com a preguiça dele, ameaçou:
— Então, eu vou arrancar com o cumpade!
— Pode ir.
Ela e o compadre meteram dos pés. No caminho, combinaram que ficariam pra eles dois e fugiriam juntos, abandonando o marido preguiçoso. Cavaram, cavaram, cavaram, quando já estavam muito suados, em tempo de não aguentarem mais, acharam um pote bem grande.
Com muito esforço, tiraram de dentro do buraco. Quando limparam a boca do pote, tirando os garranchos, saiu um monte de besouros bem grandes, do tamanho de um pinto, e correram atrás deles dois, que dispararam pro rumo de casa, picados de besouros e arranhados dos garranchos.
Quando os besouros desistiram, ela parou:
— Cumpade, já que não conseguimos, vamos esperar que os besouros voltem, aí a gente pega o pote com besouro e tudo e joga dentro da rede daquele vagabundo.
O compadre concordou. Depois de algum tempo, foram, devagarzinho, com bastante cuidado, até que conseguiram ver que os besouros tinham entrado no pote.
Tamparam, o compadre fez das tripas coração pra botar no ombro e foram pra casa.
Chegando lá, chegaram perto da rede do marido preguiçoso, que estava deitado, dormindo, chega roncava feito um porco, a mulher disse:
— Joga, cumpade, que é pra ver se esse peste não se levanta com as picadas desses besouros. Assim o compadre fez.
Qual não foi a surpresa dos dois, quando menos esperaram, os besouros se transformaram em barras de ouro e prata. Com o peso da botija em cima dele, acordou, olhou pro ouro, depois pra mulher, e repetiu:
— Eu não lhe disse que o que tivesse de ser meu, às minhas mãos havia de vir?